Um antigo
ditado bíblico reza: “O que torna impuro não é o que entra na boca, mas o que
sai da boca...” Numa interpretação psicológica diríamos: “O que decide a
identidade de uma pessoa não é o que os
outros decidem sobre ela, mas o que ela mesma decide”. Uma pessoa que é amada
pode – por causa disso ou apesar disso – ser tudo o que quiser. Uma pessoa que
ama é uma pessoa amorosa. Uma pessoa que é odiada, também ainda pode ser tudo o
que quiser. Mas uma pessoa que odeia, é inevitavelmente uma pessoa odienta. Em
conversa no consultório, disse-me certa vez um paciente: “Minha mãe mora na
mesma casa em que minha família e eu, mas totalmente separada de nós e, por
isso, não temos nenhuma necessidade de vê-la”. “O senhor não quer vê-la?”
perguntei. “Bem, você sabe, não gosto da minha mãe. Antigamente, ela ainda era
forte e minha mulher trabalhava fora, ela cuidava dos nossos filhos, cozinhava,
lavava e passava a roupa. Quando agora sobe a escada arquejando me dá um
sentimento de culpa”.
Pobre
genitora de maneira alguma! Pobre homem! Tornou-se um filho ingrato. Está prejudicando
a sua própria identidade! Nem precisa encontrar sua mãe para sentir isso. Basta
olhar para o espelho da sua consciência. Como se sentirá um dia, não só diante
da sepultura dela, mas também diante de si mesmo? Como alguém que abandonou sua
mãe na velhice. Como se sentirá sua mãe? Como alguém que amou, que ajudou, que
serviu. Que não abandonou seus filhos e seus netos, quando estes estavam
precisando. Foi ricamente abençoado pela colheita da vida e pode estar
satisfeita coma sua identidade. O comportamento ingrato do filho não pode
tirar-lhe nada disso, absolutamente nada.
Naturalmente
também há exemplos contrários. Pais que são briguentos, vivem criticando,
cobrando excessivamente são opressores etc. Apesar disso é a atitude dos filhos
para com eles que determinará o bem-estar desses filhos. se os filhos se
omitirem, serão hipócritas, se aceitarem a tirania, favorecerão a tirania, e se
permanecerem interiormente firmes e exteriormente misericordiosos, serão
pessoas estáveis e bondosas. Novamente se poderá objetar que isso não é fácil.
É verdade. Exatamente por isso a doença psíquica constitui o ponto final de um
caminho fácil, demasiadamente confortável, no qual se foge de qualquer desafio,
obstáculo e responsabilidade, a exemplo do paciente anteriormente mencionado,
que evita até encontrar-se com sua mãe na escada, para poupar-se dos
sentimentos de culpa. E que precisa urgentemente de ajuda psicoterapêutica por não está satisfeito consigo mesmo e com a sua identidade.
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