*Por DANIEL MACEDO
Os tempos
estão mudando e com eles também o nosso modo de se comportar, agir e pensar.
Sabemos que as rápidas transformações ocorridas nesses últimos anos,
certamente, têm produzidos inúmeros fenômenos que estão interferindo
profundamente na maneira de viver das pessoas. Com o advento da Cibercultura e o avanço proliferado dos
seus dispositivos tecnológicos e virtuais como os smartphones, tablets e outros
recursos, realmente, a comunicação nunca esteve tão diferente.
Entretanto, nesse cenário, o século XXI se configura com um novo arranjo
cultural que se impõe com o aumento dos casos relacionados às patologias
mentais, afligindo assim como nunca a geração de adolescentes na contemporânea.
De fato, vivemos nesse campo uma situação estranhada na humanidade, onde
as pessoas conquistam os espaços siderais, mas não conseguem chegar,
solidários, à porta do vizinho. Há um vazio existencial muito grande e nada pode
preencher, porque não há como se realizar num mundo onde o imediatismo e a
superficialidade das relações humanas são paradoxos que anunciam essas mudanças
cujas repercussões são visivelmente presentes no cotidiano dos próprios
adolescentes, vítimas de tantas seduções virtuais.
Em um dos
trechos iniciais da canção clássica “Tudo outra vez”, o cantor e compositor
baiano Belchior (recentemente falecido) escreveu a seguinte expressão “(...) e
nessas ilhas cheias de distância, o meu blusão de couro de estragou”. Pois bem,
em licença poética, esta é a frase que representa bem o novo perfil que
caracteriza a geração atual, denominada por muitos estudiosos de “Geração
Y” (também chamada “geração do
milênio” ou “geração da Internet”). É, nesse sentido, a geração
de crianças e adolescentes que vive em um tempo totalmente distinto do nosso,
nascida já inserida num contexto cibernético, com costumes e hábitos
mediatizados pelo uso constante das tecnologias midiáticas, redes sociais e
demais influências da Internet.
Entretanto,
nesse universo geracional, alguns fenômenos se sobrepõem à realidade objetiva,
pois já não há mais tanta integralidade social nem afetiva na vida das pessoas,
principalmente dos adolescentes. Muitos estão isolados em seus quartos,
plugados no universo on line, vivendo como se fossem “ilhas” no seu
próprio meio familiar, contexto este que às vezes se encontra desestruturado e
distanciado pela falta de diálogo e convivência mútua.
Todavia, a
vulnerabilidade, a falta de “um filtro mental” ou mesmo maturidade para
discernir sobre as consequências negativas que esse complexo mundo pode gerar,
têm causado auto-destruição da própria existência. E aí, onde não há mais
lugares para a paciência e o equilíbrio psíquico, tudo se torna efêmero e
descartável. O outro é banalizado ou “coisificado”; os princípios éticos e
morais são trocados pela vulgarização espetacular da violência interpessoal e
crimes cybernéticos; Bulliyng, assédio sexual etc. Tudo isso são sintomas dessa
nova configuração sociocultural deste novo século.
É preciso mais
fiscalização e monitoramento desses fenômenos virtuais, uma vez que a Internet
pode abrir portas para outras vias perigosas de exterminação e manipulação de
jovens na contemporaneidade.
Nesse
complexo universo, a vez agora é o da “Baleia Azul”, fenômeno virtual criminoso
que está produzindo um verdadeiro “terrorismo” a essa geração, tornando-a
vulnerável a uma gama de adoecimentos ou à indução ao autoextermínio. Para
muitos estudiosos, esse tipo de jogo entra no universo real do adolescente como
um instrumento perverso para potenciar a sua fragilidade e falta de maturidade
de não conseguir lidar com os conflitos intrapessoais. É sabido
que, por trás desse jogo existe uma legião de criminosos e psicopatas que se
escondem no anonimato da rede para agir demasiadamente, como se encontrasse uma
forma narcísica de identificação e busca de prazer. Age sobre a realidade
psíquica do usuário sem passar pelo crivo da avaliação crítica e objetiva,
induzindo a uma espécie de dependência cibernética movida pelos impulsos
compulsivos e obsessivos. O recém-iniciante do jogo, geralmente, deixa-se
induzir porque não consegue dominar os impulsos agressivos que lhes vêm à mente
e, apesar de muitos não afirmarem não existir em sua intenção o desejo de
suicídio, encontram no game um meio estimulador para a prática recorrente e
intencional da autolesão.
Segundo o
DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais, na sua 5ª
edição), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria), o comportamento
autolesivo causa sofrimento clinicamente significativo e interfere no
funcionamento interpessoal, escolar e demais áreas importantes do funcionamento
integral do indivíduo. Por outro, há a hipótese de que a maioria
dos adolescentes possam se cortarem compulsivamente como uma forma de
autopunição para compensarem atos que causaram sofrimento ou dano a
outros.
Para essa
geração tão diferente, filha do universo cibernético e da “modernidade líquida”
(como assim denominara o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman), importa reeducá-la e orientá-la à convivência com o mundo real,
onde possa conectar a vida sem precisar de se isolar ou ser vítima dos vícios
que a Internet pode produzir. Para esse
pensador, as duas das características da modernidade líquida são a substituição
da ideia de coletividade e de solidariedade pelo individualismo; e a
transformação do cidadão em consumidor. Nesse contexto, as relações afetivas se
dão por meio de laços momentâneos e volúveis e se tornam superficiais e pouco
seguras (amor líquido). No lugar da vida em comunidade e do contato próximo e
pessoal privilegiam-se as chamadas conexões, relações interpessoais que podem
ser desfeitas com a mesma facilidade com que são estabelecidas, assim como
mercadorias que podem ser adquiridas e descartadas. Exemplo disso seriam os
relacionamentos virtuais em redes.
Um mundo assim precisa de
uma reestruturação socioeducativa nos arranjos familiares. É preciso mais amor,
mais diálogo, mais presença real entre pais e filhos... Entre a própria
humanidade, que se extermina virtualmente em tempos incertos e tão complicados.
Preocupa-nos
saber que inúmeros jovens estão desenvolvendo transtornos mentais provenientes
do uso excessivo da Internet. Muitos já são diagnosticados com distúrbios
severos de personalidade ou mesmo sofrendo de déficits de aprendizagem e do
sono, compulsões, depressão e ansiedade. Além disso, assusta-nos os noticiários
televisivos destacando os casos de adolescentes ou até mesmo crianças
envolvidos viciosamente nos jogos patológicos.
Essa
anti-realidade legitimada pelo “virtual” traz danos profundos à saúde mental do
adolescente, este que, condicionado pelas armadilhas da “Net”, deixa-se
influenciar pelos modismos da rede, configurando seu comportamento por campos
nunca antes vivenciados. Nesse cenário, tornam-se presas fáceis para os crimes
cibernéticos, não sabendo lidar com a enxurrada de estímulos que esse universo
apresenta.
A geração
digital, (hiper) atarefada com o universo midiático, também está adoecendo
rapidamente de transtornos relacionados à dependência tecnológica. O uso
constante e demasiado do celular, tablet e demais utensílios tecnológico
oferecidos pela Internet, produz efeitos neurofisiológicos negativos na
estrutura psíquica do jovem. Muitos já apresentam alterações no processo do sono,
dormindo muito menos do que ocorria devido o tempo que ficam conectados ;
outros se tornam agressivos e irritáveis quando não estão usando o celular ou o
computador; problemas oftalmológicos precoces já são diagnosticados nessa
geração; problemas relacionados à falta de alimentação, desenvolvendo quadros
de anorexia ou bulimia; casos de automutilações também estão aumentando e assim
por diante.
Diante disso
tudo, precisamos urgentemente instruir e conscientizar os nossos adolescentes
para que saibam utilizar esses recursos com mais responsabilidade e
assertividade. É importante destacar que um dos primeiros passos para a
abordagem do adolescente que se encontra na situação de vulnerabilidade, é a
própria avaliação do grau de sofrimento que o mesmo apresenta, e, por
conseguinte, à identificação de todos os fatores que estão induzindo sua
prática virtual. Salienta-se ainda que o comportamento da automutilação
induzido pelo jogo ou mesmo o risco suicida pode também está associado a um
contexto variado de patologias mentais, como: os transtornos depressivos e
ansiosos.
Além disso,
as ações e estratégias preventivas por meio de palestras e momentos formativos
nas escolas e demais instituições públicas ou mesmo privadas que atuam com essa
demanda são fundamentais para a prevenção e conscientização. A parceria com
profissionais da área da saúde mental, principalmente da área de Psicologia, também
é fundamental, haja vista que os adolescentes que apresentam quadros de
dependências e já acometidos por algum tipo de adoecimento mental precisam ser
acompanhados e assistidos.
Urgente se faz, portanto, agirmos enquanto há tempo.
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